Limitar o aquecimento global a um nível inferior a 1,5 graus Celsius em relação ao nível pré-industrial. Este é o ambicioso objetivo fixado pelo Acordo de Paris no fim de 2015. E, segundo o IPCC, a única forma de alcançar isso é chegar à emissão líquida zero de carbono entre 2050 e 2070. Em cada um dos 195 países signatários do acordo, foram adotadas medidas de incentivo para iniciar a nossa transição na direção de uma economia baixa em carbono, circular e sustentável, nomeadamente nos setores industriais e terciários.
São cada vez mais as empresas que adotam um roteiro plurianual para reduzir as suas emissões de gases com efeitos de estufa. Para isso, é essencial compreender bem e distinguir duas noções fundamentais: os eixos de ação, a mobilizar para reduzir a sua pegada de carbono, e os âmbitos, que correspondem aos diferentes perímetros da cadeia de valor na empresa. Vamos analisar estes dois conceitos a dominar para a implementação do seu roteiro sobre «Descarbonização».
Descarbonização das suas atividades: 4 eixos de ação
1. Mistura energética
Numa determinada zona ou região geográfica, a mistura energética indica o nível de distribuição entre as diferentes fontes de energia primárias, independentemente de serem fósseis ou renováveis. Atualmente, mais de 80 % da mistura energética mundial é composta por combustíveis fósseis. Neste campo, o desafio é reduzir a nossa dependência destas energias fósseis e substituí-las por energias renováveis.
Qualquer empresa pode tornar a sua mistura energética mais ecológica, mitigando a mistura da sua rede de abastecimento com energias renováveis produzidas no local: através da instalação de painéis fotovoltaicos e de turbinas eólicas, utilização de biogás ou instalação de um sistema de cogeração, responsável por recuperar o calor emitido por determinados procedimentos de produção para produzir eletricidade em autoconsumo.
A ecologização da mistura energética é um meio para a empresa reforçar a sua resiliência energética. Trata-se de garantir a continuidade das suas operações face à escassez das energias fósseis, tendo em conta a alternância de fontes de energia renováveis (sol, vento,...).
2. Sobriedade energética
O objetivo deste eixo é reduzir a necessidade de energia. Como? Eliminando algumas utilizações (alteração de comportamentos, escolhas estratégicas...) e limitando-se às necessidades energéticas essenciais nas utilizações individuais e coletivas.
A sobriedade energética pode ser considerada em 3 aspectos:
- uma sobriedade considerada dimensional, que consiste em abolir a utilização de equipamentos muito grandes;
- uma sobriedade de utilização, que visa reconsiderar o nível e a duração da utilização dos aparelhos que consomem energia - a iluminação do polo, cujo consumo pode ser reduzido, por exemplo;
- uma sobriedade cooperativa, que se dedica à implementação de organizações coletivas e distribuição dos bens: agrupamento de meios de produção industrial, recurso à economia circular,...
A sobriedade energética diz respeito às energias renováveis e às energias fósseis. Neste eixo, o desafio é conseguir normalizar e inserir no dia a dia a noção de consumo responsável dos recursos.
3. Desempenho energético
Trata-se de reduzir os consumos de energia, independentemente do meio de aprovisionamento e mantendo o mesmo nível de produção ou de serviço. Na prática, para melhorar a eficiência energética de uma empresa é preciso:
- otimizar os processos de produção;
- detectar e de corrigir continuamente eventuais perdas e desvios de energia para atingir e manter um consumo perfeito.
O desempenho energético é um eixo a dar prioridade em todos os roteiros de «Descarbonização», já que as suas vantagens são diversas:
- reduções orçamentais significativas, a eficiência energética permite investir em outros eixos graças aos orçamentos disponibilizados;
- o seu ROI é muito rápido, geralmente entre 9 e 12 meses;
- pouco intrusivo para a empresa, este eixo não exige mudanças de equipamentos no arranque e não necessita de modificações da produção nas fábricas.
O desempenho energético é um elemento fundamental que permite conciliar crescimento da empresa e desafios ambientais. Ao melhorar a sua eficiência energética, geralmente a organização ganha em termos de produtividade, com importantes reduções em jogo.
Infelizmente, este eixo é muito pouco equacionado, nomeadamente nos mecanismos de apoio governamentais. Por isso, 40 % dos objetivos de descarbonização fixados no acordo de Paris fazem parte dos esforços em termos de desempenho energético!
4. Compensação de carbono
Este mecanismo nasceu aquando do protocolo de Quioto, que entrou em vigor em 2005. Permite compensar as emissões de CO2 de uma organização através do financiamento de projetos sobre:
- o desenvolvimento das energias renováveis – por exemplo, a construção de um parque eólico;
- a captação do carbono através daquilo a que chamamos reservatório de carbono, ou seja, um contentor capaz de captar e armazenar as emissões presentes na atmosfera através de um mecanismo natural ou artificial - por exemplo, um projeto de reflorestação.
Algumas empresas, como a Microsoft, decidiram ir além das exigências de neutralidade de carbono fixadas para 2050, compensando nos próximos anos as suas emissões de CO2 passadas.
Apesar de a compensação de carbono ser um dos eixos de ação menos maduros, as tecnologias progridem rapidamente. É especialmente este o caso para a criação e desenvolvimento de reservatórios de carbono naturais ou artificiais.
Mistura energética, sobriedade, desempenho e compensação de carbono: estes 4 eixos de ação podem ser ativados um após o outro ou implementados paralelamente, em função das capacidades e dos recursos de cada empresa. Contudo, para a sua ativação é preciso um financiamento dedicado e ferramentas digitais para recolher e analisar os consumos energéticos na empresa.
Âmbitos: perímetros de aplicação dos 4 eixos de ação
Os âmbitos 1, 2 e 3 foram definidos no Protocolo de GEE, que estabelece um quadro internacional para medir e gerir as emissões de gases com efeito de estufa. Correspondem aos diferentes perímetros onde são estudadas as emissões de gases com efeito de estufa. É importante poder quantificar o impacto das atividades em cada âmbito para determinar objetivos de redução e dar prioridade às ações a implementar. Porém, alguns itens destes âmbitos continuam a ser difíceis de medir.
Âmbito 1: emissões diretas
Neste contexto, que é o mais restrito, são contabilizadas as emissões ligadas ao consumo de energias fósseis (combustível, carvão, gás natural...) pela empresa no âmbito da sua atividade, através dos seus equipamentos ou edifícios. Quatro categorias de emissões entram neste âmbito:
- as emissões associadas à combustão fixa de combustíveis e fontes de calor (para o aquecimento, por exemplo);
- as emissões provenientes de uma combustão móvel gerada pelos veículos da empresa que consomem combustível (automóveis, camiões...);
- as emissões voláteis provenientes de fugas de gases refrigerantes com efeitos de estufa relacionadas com a climatização ou com os refrigeradores;
- as emissões do processo associadas aos procedimentos industriais e à produção no polo (fumos das chaminés industriais, por exemplo).
As emissões prévias relacionadas com a disponibilização dos combustíveis (extração, transporte, refinação…) também são contabilizadas neste perímetro.
Âmbito 2: emissões indiretas
São as emissões geradas pela produção de uma energia transformada (eletricidade, vapor, calor...) a partir de energias fósseis. Em concreto, as emissões indiretas estão associadas:
- à compra de eletricidade, sendo esta produzida a partir de uma energia primária disponível na natureza (petróleo, gás, urânio, sol,...);
- à utilização de redes de calor ou de frio - por exemplo, quando uma empresa se abastece de vapor cuja produção precisa da utilização de combustíveis e, assim, com emissão de GEE.
Âmbito 3: ciclo de vida do produto
Este âmbito correspondente ao perímetro mais abrangente. Agrupa as emissões que não são geradas diretamente pela empresa, mas pelos seus fornecedores e prestadores de serviços, antes e depois da sua própria atividade:
- antes - compra de produtos e serviços, transporte de mercadorias para os aprovisionamentos...
- depois – transporte de mercadorias para distribuição, utilização dos produtos pelos consumidores finais, gestão dos resíduos relacionados com o fim de vida dos produtos vendidos...
Apesar de a criação de um roteiro de «Descarbonização» ser uma construção matricial com base em 4 eixos ativáveis em 3 âmbitos distintos, antes de mais deve basear-se numa estratégia de desempenho energético claramente definida. A definição desta estratégia continua a ser uma etapa acessível para toda a empresa, através da exploração dos dados. As ferramentas digitais ajudarão, em seguida, a consolidar, comparar e orquestrar eficazmente esta estratégia de descarbonização.
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