A nossa série «Entrevista Green Tech» dá a voz a intervenientes inovadores, empenhados no combate ao aquecimento global. Para esta primeira publicação, falámos com Antoine Rostand, CEO da Kayrros: uma start-up que desenvolve uma solução de medição e de acompanhamento em tempo real dos riscos climáticos a nível mundial.
Qual é o papel da Kayrros no combate às alterações climáticas?
Na Kayrros, fazemos a observação da Terra por satélite. Observamos, nomeadamente, o impacto da atividade humana no planeta.
Mais concretamente, medimos as fugas de metano e as emissões de CO2 em tempo real, mas também o que chamamos alteração de utilização dos solos: o desmatamento. Por fim, medimos todos os grandes parâmetros climáticos relacionados com o ciclo do carbono.
O nosso trabalho é essencial porque fornecemos aos Estados e aos investidores os meios para medir as emissões de gases com efeito de estufa de todas as empresas industriais, a nível mundial.
Quais são os seus mercados alvo? E nestes, como avalia a maturidade dos intervenientes para ultrapassar os desafios climáticos?
Temos três grandes mercados.
- Os reguladores (a Comissão Europeia, o governo dos Estados Unidos ou os reguladores da energia a nível mundial), que são bastante maduros. Têm uma boa compreensão dos desafios, mas um ritmo de implementação bastante lento das novas tecnologias para orientar a sua atividade.
- Os operadores no setor da energia (produtores de eletricidade ou produtores de energias fósseis), que não são tecnologicamente avançados. Apenas implementam as regulamentações necessárias.
- Por fim, os investidores (os grandes investidores, os gestores de ativos, hedge funds, os financiadores de fundos de infraestruturas), que têm uma verdadeira visão do risco. Têm uma boa compreensão da contribuição das novas tecnologias, como as imagens de satélite, para medir os gases com efeito estufa e reduzi-los de forma significativa.
Quais são os principais problemas aos quais a sua empresa e as suas soluções respondem?
O problema principal que pretendemos abordar é que não existe medição independente das emissões. Todos os Estados e as empresas têm objetivos de redução das emissões, mas as emissões mundiais continuam a aumentar. Enquanto não houver medições independentes das emissões de metano e CO2, podemos reduzir as emissões na França, mas se for para elas reaparecerem em outra ponta, não serve para nada. Tentamos resolver um problema fundamental de administração, a nível mundial, dos direitos de emissão.
Como aborda estas questões?
Propomos uma medição independente que seja a mesma em todo o mundo, para não favorecer um determinado Estado ou interveniente. A ideia é ser verdadeiramente objetivo e independente, para ter uma medição realista do impacto climático dos Estados e das sociedades industriais, sejam elas quais forem.
É esta transparência que permite, então, aos investidores tomarem decisões, de investir ou não. A longo prazo, isso também permite ao público em geral tomar decisões de compra.
Temos conjuntos de dados que se destinam à utilização exclusiva do seu proprietário. Mas também temos uma lógica de disponibilização ao público em geral de open source de um determinado número de dados sobre o CO2, o metano e a floresta, que disponibilizamos a todos gratuitamente.
Também existe uma necessidade de informação do público em geral?
Existe mesmo uma grande necessidade de informação porque, atualmente, a compreensão do que é o metano é muito baixa. Mesmo que comece a surgir após a COP26, poucos percebem que o metano é tão importante quanto o CO2 e que, atualmente, não existe qualquer medição sobre ele.
O outro problema é que o público em geral pensa que é preciso fazer, a nível local, esforços para diminuir as emissões na Europa: está muito bem, mas isso não serve de nada se reaparecerem noutro lado... Existe um grande tema de educação do público em geral, com certeza.
Na sua opinião, qual é o papel do digital e dos dados na ecologização da economia?
O seu papel é fundamental. Se não soubermos de onde vêm, nunca conseguiremos reduzir as emissões!
Por isso, é obrigatório continuar a fazê-lo e a única forma é tendo dados. O debate do impacto do digital na ecologia é um falso debate: sem capacidade para medir o que fazemos não teremos capacidade de intervenção. Ter estes tipo de dados é extremamente essencial.
Qual é a sua opinião pessoal sobre a evolução da transição energética nos próximos anos?
Acho que há uma urgência, mas também existem muitas coisas que precisam ser feitas. Estou bastante otimista sobre a capacidade da espécie humana de reagir e fazer o que for necessário para reduzir a nossa pegada. Neste momento, temos de trabalhar juntos e, como é evidente, os conflitos não ajudam em nada. Temos um assunto real, que é voltar a trabalhar em conjunto para reduzir a nossa pegada climática. É essencial para a nossa sobrevivência! Temos a tecnologia, o know-how... e só temos de nos juntar, o que, infelizmente, não é fácil.
Obrigado a Antoine Rostand por ter aceitado falar conosco e nos dar o seu ponto de vista sobre este tema importante. Atualmente, os dados, a Data Science e as competências associadas têm um papel essencial nos desempenhos energéticos.
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